Movimento Slow Food passa a investir no Brasil
Matéria de Cristiana Couto para a Folha De São Paulo
O Brasil é a bola da vez para o Slow Food, que dissemina a alimentação saudável e a agricultura sustentável.
Neste ano, o movimento internacional, presente em mais de 150 países, prevê abrir no Brasil seu primeiro escritório latino-americano. Essa foi uma das decisões tomadas no último encontro do Conselho Internacional do Slow Food, realizado no mês passado, em Istambul (Turquia).
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Umbu, um dos produtos da Arca do Gosto brasileira |
Com a crise europeia, o movimento, centralizado no continente, passa, agora, a depositar suas fichas nos países emergentes.
“O Brasil é um verdadeiro continente, que ostenta um patrimônio de biodiversidade incrível”, diz o italiano Carlo Petrini, fundador do Slow Food. “Do ponto de vista histórico-cultural, há também uma riqueza igualmente valiosa, que precisa ser preservada”, acrescenta.
Para Georges Schnyder, um dos três representantes da América do Sul e único brasileiro a participar do encontro, a América Latina está se reapropriando de sua cozinha e é o lugar onde se trava agora a batalha por um alimento “bom, limpo e justo”, as três palavras de ordem do Slow Food.
Essa batalha por uma nova gastronomia social, que valoriza também o prazer de comer, tem como uma de suas principais armas o projeto Arca do Gosto. Criado em 1996, ele identifica, localiza, descreve e divulga ingredientes que tem potencial produtivo e comercial, mas que correm risco de desaparecer.
A meta do movimento para 2020 é fazer com que a Arca do Gosto alcance, no mundo, 10 mil produtos (atualmente, estão catalogados 1.150). “Ela tem um papel estratégico na conservação não apenas do solo e da agrobiodiversidade, mas também da cultura tradicional de cada país”, explica Petrini.
No Brasil, existem 24 produtos na Arca. Destes, nove itens, como o umbu, o arroz-vermelho e o palmito-juçara, fazem parte das Fortalezas, projeto de caráter mais prático que destina recursos financeiros para a sobrevivência daquele produto.
“Os ingredientes brasileiros estão desaparecendo do mapa antes mesmo de serem conhecidos”, diz Schnyder. “É uma maneira rápida de garantir que eles não sumam.”
O umbu é um exemplo. Produto da caatinga e fonte de renda de produtores familiares, estava sendo substituído por frutas de fácil comercialização e mais rendosas.
Hoje, com a ação do Slow Food, montou-se uma cooperativa com 59 produtores que recolhem o fruto das comunidades locais e o transformam em produtos de qualidade, como compotas, que já são exportadas.